quinta-feira, 16 de outubro de 2014

O Dragão

Todos os dias eu abro os olhos pela manhã e encontro um dragão, soltando fogo pelas ventas.
Então levanto, lanço mão das minhas melhores armas, de toda a minha astúcia e parto pra luta, e não me permito um minuto de desatenção, pois às vezes, por um segundo, olho pra ele e chego a achar que está sorrindo pra mim...
Mas não, é sempre uma armadilha, ele sabe que ainda sou capaz de sonhar, e isso é exatamente o que mais o irrita...e o dragão avança, ardiloso e cruel, determinado a me chutar para escanteio, e tomar conta da minha vida.
Chega uma certa hora, estamos os dois cansados...então fazemos um acordo temporário, uma trégua, uma bandeira branca, e deixamos tudo isso para amanhã.
Mas quando acordo, lá está o dragão.
De vez em quando percebo que estou quase me acostumando com sua presença, e penso que deve ser um erro de estratégia, pois definitivamente, não gosto dele.
Preciso convencê-lo a escolher outra presa, a tomar outro rumo, dizer a ele que meu sangue é doce e enjoado, que existem carnes mais macias, almas mais vazias, vidas mais temperadas com os sabores amargos que ele tanto aprecia, empanadas com inveja, arrogância e maledicência.
Descobrir a razão pela qual o dragão me escolheu, e não os anjos.
Talvez aí minhas chances aumentem.

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