Tenho andado tanto tempo dentro do meu carro velho cruzando
a cidade nos engarrafamentos, que estou desenvolvendo uma relação, um processo
de simbiose com ele...
Somos quase iguais atualmente, uma calota perdida é como um
dente que me falta, coisas que trepidam e fazem ruídos estranhos parecem com
meus joelhos...às vezes acelero e sinto a antiga potência do motor que fui um
dia, outras vezes engasgo na ladeira...
Tem dias que preciso deixa-lo na garagem quieto, exatamente
como fico no sofá, somos abastecidos periodicamente com uma dose extra de
combustível suficiente para continuar rodando, mas nunca negamos fogo.
Quando isso acontece, o caso é grave.
Acho que estou ficando estranha mesmo.
O Ministério da Saúde adverte: trabalhar em um dia esplendoroso
como hoje pode causar extremo desequilíbrio psicológico.
Somado a engarrafamentos surreais, os danos podem ser
irreversíveis.
Fazer o quê....é o que temos para hoje.
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