Nem sei por onde recomeçar, quando alguma coisa acaba.
Nem sei se realmente alguma coisa acaba, acho mesmo que nada
tem fim, percebo que só vai se diluindo na poeira das lembranças, e vira aquela
areia purpurina que se movimenta sempre, que se solta do solo pra desenhar novas
curvas e horizontes infinitos, partículas brilhantes iguais aquelas que flutuavam no mar da minha
infância, naquele mar do Sul tão indecifrável, onde tudo era tão vivo, que não
era nem verde nem azul como a gente costuma sonhar o mar, mas tão transparente que
dependendo da luz, tinha a cor que eu quisesse enxergar.
Nem sei se alguém vai lembrar de mim como eu lembro de cada
grão de areia que permanece flutuando aqui e ali, se distanciando ou se
aproximando conforme as marés determinam, encontros e desencontros em cada onda
que quebra, em cada vento que sopra, em cada rua que atravesso, em cada perigo
que enfrento, em cada dia que termina, e quem disse que o dia termina?
Pois se a noite continua acesa, e eu já nem sei mais se tudo
isso faz tanto tempo, ou se nasci agora, tanto faz.
Queria saber mas nunca sei, sei só um pouco mas quase nada,
e nem sei se isso é bom ou não.
Mas acho que sim.
Sim sim, salamim.
Nenhum comentário:
Postar um comentário