segunda-feira, 24 de novembro de 2014

Simples assim

Costumo ser muito emblemática, quase óbvia, é só prestar atenção nos sinais, estão em toda a parte, eu deixo rastros, pegadas, algum indício largado pra trás, não sei onde ficam os esconderijos, sou presa fácil.
Aí você decide se gosta ou não, se sim pode ficar à vontade, se não press the button e tchum! I´m gone.
Não é simples?



Ventania

Vento que venta na direção certeira, entrando pelas janelas e circulando pela casa.
Há de ser alguma coisa positiva, esse vento que passa levando incertezas, que sopra na minha direção para me lembrar que mesmo aqui, parada onde estou, tudo é movimento.
Vento frio de arrepio, que balança o verde lá fora, que sopra um segredo e vai embora só pra voltar daqui a pouco outro vez, me desafiando a mudar de lugar, a procurar abrigo, a enfrentar as tempestades, o mesmo vento que escurece pra depois clarear.
Vento que mexe com as marés, que traz o cheiro do mar, que desarruma os cabelos, que não me deixa quieta.

Deve ser isso...tudo culpa do vento.

domingo, 23 de novembro de 2014

Um dia parado no caminho

Hoje esse dia foi meio assim, meio assado, meio vazio, meio molhado, meio sem pé nem cabeça, meio lá, meio cá, meio chato, meio estranho, e agora meia lua já não tão super, decrescendo escondida atrás desse céu meio dia, meio noite, meio cinza, nesse dia meio chuvoso.

Um dia assim, parado no meio do caminho.

Acabou?

Nem sei por onde recomeçar, quando alguma coisa acaba.
Nem sei se realmente alguma coisa acaba, acho mesmo que nada tem fim, percebo que só vai se diluindo na poeira das lembranças, e vira aquela areia purpurina que se movimenta sempre, que se solta do solo pra desenhar novas curvas e horizontes infinitos, partículas brilhantes  iguais aquelas que flutuavam no mar da minha infância, naquele mar do Sul tão indecifrável, onde tudo era tão vivo, que não era nem verde nem azul como a gente costuma sonhar o mar, mas tão transparente que dependendo da luz, tinha a cor que eu quisesse enxergar.
Nem sei se alguém vai lembrar de mim como eu lembro de cada grão de areia que permanece flutuando aqui e ali, se distanciando ou se aproximando conforme as marés determinam, encontros e desencontros em cada onda que quebra, em cada vento que sopra, em cada rua que atravesso, em cada perigo que enfrento, em cada dia que termina, e quem disse que o dia termina?
Pois se a noite continua acesa, e eu já nem sei mais se tudo isso faz tanto tempo, ou se nasci agora, tanto faz.
Queria saber mas nunca sei, sei só um pouco mas quase nada, e nem sei se isso é bom ou não.
Mas acho que sim.

Sim sim, salamim.

Uma certa preguiça

Tenho um tipo muito peculiar de preguiça:
Tenho preguiça de descansar, e graças a essa característica estranha, que só me permite o desligamento parcial da mente, estou sempre assim, com uma certa preguiça.
Por outro lado, não teria preguiça de ficar horas só balançando na rede, ouvindo as ondas quebrando, tchá, tchá...
Tenho mais preguiça de descansar quando tenho mais o que fazer.
Acho que preciso encontrar um lugar onde não há nada mais a ser feito.
Pelo menos por mim.

Ainda da série tenho preguiça:
Existe dentro de mim também um outro tipo de preguiça, mais subjetiva.
Preguiça de responder à altura, preguiça de explicar o óbvio, preguiça de narizes em pé, dessa gente que se acha tão importante e que não faz nenhuma diferença na vida de ninguém,  preguiça de opiniões radicais, de verdades absolutas, preguiça de chatice em geral.
Ok, sei que ando muito preguiçosa.
Vou já executar a série mais importante de exercícios para qualquer ser humano.
Resiliência, tolerância, paciência.
Depois de umas 500 repetições dessa série por dia, quem sabe...essa talvez seja a coisa mais efetiva que eu possa fazer por mim nesses tempos modernos.

Haja...

segunda-feira, 17 de novembro de 2014

Tempo sem tempo

Sobra tempo desperdiçado, falta tempo produtivo, tempo que passa quando tinha que esperar, tempo que espera quando tinha que passar.
Tempo sem tempo pra nada, tempo deslocado no tempo, tempo limite, tempo encerrado, não deu tempo, tente novamente, reinicie a sessão.
Se der tempo eu vou, se não der volto outro dia.
Tempo implacável.

sábado, 1 de novembro de 2014

Com licença, obrigada.

Peço licença para que os meus tantos anos de vida ocupem o espaço conquistado, no tempo, no corpo, no espírito, na vida, na minha vida, que é só a minha vida, não a sua, nem de mais ninguém.
Peço licença para as minhas marcas, minhas alegrias, minhas desilusões, minhas dúvidas, minhas qualidades e meus defeitos, todos já tão bem identificados por mim e por todos que passam pela minha vida, peço licença para riscar o meu quadrado, e deixar uma janela aberta para que entrem as novidades que me emocionem, que me mobilizem, que me transformem em alguém melhor, se ainda der tempo.
Se ainda der tempo posso aprender mais, mudar de rumo, de opinião, desviar o caminho, pegar um atalho, se não machucar a mim nem a ninguém, se não tiver um gosto amargo, se assim se fizer necessário, se for divertido, se somar amor, paciência, tolerância e sabedoria, se valer a pena.
Senão, peço licença pra ficar aqui assim bem quietinha, só admirando a lua crescente, esperando que ela me surpreenda metade luminosa, para depois minguar e renascer, licença para observar o movimento das marés, sentir o calor do sol na pele, e continuar caminhando, buscando respostas, curiosa que sou, para as perguntas que nunca calam e que provavelmente, vou levar comigo para esse lugar que me é destinado, mas que ainda não sei onde fica.
Licença para ser só o que sou, nada mais, nada menos, licença pra mudar de idéia, diante de um bom argumento.
Licença para ser feliz, do jeito que der.







Areia movediça

Uma das coisas que mais me causavam medo na infância (não eram muitas coisas, talvez nenhuma além dessa) era a questão de cair na cilada da areia movediça.
Mais que o Bicho Papão, mais que os fantasmas, os zumbis, os vampiros, as bruxas, a maçã envenenada, a mula sem cabeça, até mais que Jack Nicholson e seu machado em “O Iluminado”.
Essa imagem de se perceber assim de repente presa nessa viscosidade, que vai lentamente engolindo seus movimentos, sua força e vontade de lutar, te enfraquecendo até que você perca a coragem, a força e finalmente o ar que respira, sempre foi aterrorizante.
Freud deve explicar, mas não tenho tempo pra ele.
Aí vem a vida demandando movimentos radicais de alto risco, então é hora de engatar a marcha, acelerar pra não atolar, hora de mexer os pauzinhos.
E ficar sempre muito atenta, porque o que não falta é areia movediça camuflada nos caminhos.


Garota da praia

Acho que sempre fui reconhecida essencialmente como a garota da praia.
Não importa o que eu fizer, onde estiver, quantos anos se passaram desde a garota, não importa o meu desempenho profissional, as ondas que surfei na vida, se sou loira, se nem tanto, onde estive, onde estarei um dia, quantas águas rolaram, quem eu sou ou deixei de ser, tenho certeza que se alguém perguntar por mim, todo mundo vai responder:
Quem, aquela que é feliz na praia?
Sim, essa sou eu mesmo, essa que deixa todos os problemas, todas as insatisfações, todo o baixo astral no mar, que se renova a cada mergulho, que adora sentir a pele ardendo, que chega preto e branco e sai colorida, essa sou eu.
Pode ser com todo mundo, com quem eu amo, sozinha comigo mesma, não importa.
É o que me basta.
Junto com a música, talvez seja isso o que eu chame de minha religião.

Desassossego

Eu não tenho essa saudade, esse desejo de voltar no tempo, o que passou, passou.
Essa nostalgia de décadas passadas, de vidas já vividas, de comportamentos em contextos tão diferentes dos estão aí hoje, isso eu não tenho.
Just walk and don´t look back.
O que eu tenho mesmo é uma dificuldade em entender onde foi que se perdeu a gentileza, que nós são esses que nos amarram, porque tantas encruzilhadas, não entendo de onde vem as muralhas que nos separam uns dos outros, os valores tão vazios que esse maravilhoso mundo novo criou, onde cada um só cuida de si, onde não há tempo pra refletir, onde não existem escolhas a fazer, onde seu destino já está traçado, onde você acorda de manhã e tudo já está programado.
E se você resolver que não quer nada disso é imediatamente excluído, e passa a viver à margem dos acontecimentos, e longe das pessoas e de suas zonas de conforto.
As pessoas não querem se envolver com nada, isso é desconfortável.
Então é assim, sempre mais fácil não dizer o que se pensa, e o que se sente verdadeiramente, é sempre mais fácil aderir, se adaptar, calar e se submeter, e aí sim, eu tenho saudade, saudade de quebrar as regras, de não corresponder às expectativas, de mudar o rumo dessa prosa, de tomar um atalho, de dizer não, isso eu não quero, e dizer sim, isso me encanta, é pra lá que eu vou.
Não tenho saudade do que já fui, tenho só o desejo de continuar sendo.
Sou assim, desassossegada.