Esse vento quente fica soprando nos meus ouvidos, me dizendo coisas tão contraditórias...
Uma hora ele diz: vai lá, vai à luta, perde os pudores, perde os escrúpulos, se vira, vira do avesso, de cabeça pra baixo, assina embaixo, use suas armas, seu escudo, seu colete à prova de golpes rasteiros.
Outra hora ele diz: vai lá, chuta o balde, vai pra praia, vai dançar, se despe, desapega, dá um grand jeté, salta longe, salta fora, faz uma oração, entrega pra Deus, deixa a vida te levar...
Vida leva eu, vida louca vida.
Não sei se devo dar ouvidos ao vento quente ou esperar o dia em que a chuva vai cair até refrescar a pressão, as angústias e inquietudes, até molhar a grama, amansar essa espera de florescer, mudar esse tom seco e imperativo que demanda providências imediatas a cada segundo, que me pede mais do que tenho a ofertar, que precisa de soluções justo agora que a meteorologia da vida não prevê nenhuma mudança pelos próximos tempos, não ainda.
Não agora. Mas quando? Se eu soubesse...
Vento que me engana, me distrai, me enfeitiça, vento que me leva em qualquer direção.
Qualquer direção não me serve, faz tempo que não me serve qualquer coisa.
Só quero que o vento me diga toda a verdade e nada mais, e que vire brisa soprando fresca e tranquila, doce e quieta como a música dos deuses.
Suave como a vida deve ser.
Se for pedir muito, então venta logo bem forte e me leva para o alto, que eu dou um jeito de voar.
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