segunda-feira, 30 de março de 2015

Ventos

Esse vento quente fica soprando nos meus ouvidos, me dizendo coisas tão contraditórias...
Uma hora ele diz: vai lá, vai à luta, perde os pudores, perde os escrúpulos, se vira, vira do avesso, de cabeça pra baixo, assina embaixo, use suas armas, seu escudo, seu colete à prova de golpes rasteiros.
Outra hora ele diz: vai lá, chuta o balde, vai pra praia, vai dançar, se despe, desapega, dá um grand jeté, salta longe, salta fora, faz uma oração, entrega pra Deus, deixa a vida te levar...
Vida leva eu, vida louca vida.
Não sei se devo dar ouvidos ao vento quente ou esperar o dia em que a chuva vai cair até refrescar a pressão, as angústias e inquietudes, até molhar a grama, amansar essa espera de florescer, mudar esse tom seco e imperativo que demanda providências imediatas a cada segundo, que me pede mais do que tenho a ofertar, que precisa de soluções justo agora que a meteorologia da vida não prevê nenhuma mudança pelos próximos tempos, não ainda.
Não agora. Mas quando? Se eu soubesse...
Vento que me engana, me distrai, me enfeitiça, vento que me leva em qualquer direção.
Qualquer direção não me serve, faz tempo que não me serve qualquer coisa.
Só quero que o vento me diga toda a verdade e nada mais, e que vire brisa soprando fresca e tranquila, doce e quieta como a música dos deuses.
Suave como a vida deve ser.
Se for pedir muito, então venta logo bem forte e me leva para o alto, que eu dou um jeito de voar.

20 coisas

Seguindo a tendência das 20 coisas que se pode perceber quando isso, ou aquilo acontece (ou não) ou qualquer outra coisa temática que se possa imaginar, listo aqui 20 coisas que você descobre nas horas mais difíceis da vida:
1: Sempre pode ficar pior;
2: Pode melhorar também, mas você não sabe quando;
3: Quase todo mundo desaparece, mas sempre existe um anjo; 
4: Você é mais forte do que jamais foi capaz de imaginar;
5: Também é capaz de perder todas as forças em segundos, mas ninguém vai perceber;
6: Aprenderá a viver um dia de cada vez;
7: O que não tem solução, solucionado não está;
8: Aí nesse caso é uma coisa de cada vez;
9: Se não for, não era pra ser, o que tiver que ser será;
10: Atividades prosaicas como cozinhar e fazer faxina são altamente recomendáveis;
11: Aprenda que Deus não está disponível somente para as suas preces, e pode demorar...não perca a fé;
12: Jogue na Mega Sena, mas em hipótese alguma conte com isso;
13: Se existe algum significado para isso tudo, se resume ao aprendizado;
14: Aprenda a conviver com a frase “não está fácil pra ninguém”, mesmo que isso não seja verdade;
15: Paciência é uma palavra chave, resiliência então nem se fala;
16: Não atribua culpa a nada nem a ninguém, é tudo seu, aliás, elimine a palavra culpa;
17: Não esqueça de amar todos os dias as poucas pessoas fundamentais na sua vida (você saberá quem são), elas torcem por você;
18: A música é terapêutica e imprescindível, o mar também;
19: Olhe para si mesmo e nunca se esqueça de quem é;
20: Isso também passará.
That´s all folks.
Boa noite.

Os joelhos

Ah, os joelhos...
Joelhos são os primeiros a emitir sinais de que o tempo está passando, e tudo sempre vai depender de como você soube usá-los, até que eles comecem a reclamar, mas quem se importa com isso?
Quem há de ter sido tão sem graça na vida a ponto de não pular corda na infância, de não dançar como se não houvesse amanhã, de não saltar de alegria quando é gol, seja o seu gol ou do Brasil (que ultimamente nem é o caso), tudo isso sem o devido alongamento.
Saco...já pensou? Primeiro alongo, depois comemoro, fala sério...
Quem não correu na areia ou no asfalto, seja pra ficar em forma ou simplesmente pra correr atrás mesmo, atrás de tudo que é inevitável correr atrás, quem não pulou pedras, seja por pura diversão ou porque as pedras estão simplesmente atravancando o seu caminho, sendo essas geralmente as mais escorregadias, e quantas vezes você vai cair de mau jeito, e vai levantar assim, toda torta mesmo, e prosseguir.
Usei e abusei dos meus joelhos, eu sei, e talvez até me aconselhem a trocar por outro.
Aí eu vou lá e troco, e continuo a usar, porque sou mesmo muito abusada.

Impressionada

A grande conquista que realmente percebi até agora no Brasil, que infelizmente tomou conta das pessoas como um espírito ruim, e que está em todos os níveis de classes sociais, sejam ignorantes, analfabetos, pobres, negros, elites brancas, azuis ou amarelas, letrados, intelectuais ou os "pseudo" qualquer coisa que pensam saber de tudo, classe média, baixa ou alta, classe A, B, C ou D ou o cacete, é a triunfal volta do preconceito, da intolerância, da incapacidade de refletir e analisar fatos e argumentos independente de posições partidárias, de debater qualquer discordância sem que todos se pareçam com crianças malcriadas que mordem os amiguinhos na creche, essa terrível incitação ao ódio, essa agressividade absurda, essa cegueira que se recusa a ver, esse Fla x Flu ridículo agora denominado Coxinhas x Petralhas.
Eu acho tudo patético.
Mas quem sabe um índio descerá de uma estrela colorida brilhante...

Bandeira Branca

Minha camisa não é verde e amarela, não é azul nem vermelha.
Minha camisa é branca, bandeira branca amor.
‪#‎nãopossomais‬

Asilo

Se eu vier a cruzar definitivamente a linha da terceira idade, porque sei lá, pode ser que sim, pode ser que não, penso num projeto revolucionário para mudar definitivamente o conceito de asilos.
Começando pelo local é claro, muito, mas muito perto do mar.
Tranquilo, talvez baiano, ou catarinense, mas seja onde for, que esteja adaptado com toda a tecnologia de imagem, som, e conexões com as informações sobre a evolução, ou a involução, do mundo lá fora, dependendo do ponto de vista.
Então se liga, saberemos de tudo, mas muito pouco disso tudo que acontece lá fora nos afetará.
Estaremos mais ocupados com música, muita música, e cores, muitas cores, e dançaremos com o que nos sobrar de movimentos, mesmo que seja só balançando a cabeça.
Poderemos usar drogas de qualquer categoria, viajar sem sair do lugar seja para onde for, não teremos mais nada a perder, sendo esse quesito opcional, uns bons drinks já cumprem sua função terapêutica e libertadora.
Um (a) excelente Chef, uma cozinha extraordinária.
Atendimento médico para casos de defeitos, massagens e óleos aromáticos, alongamentos e exercícios de puro prazer.
Uma UTI móvel talvez, mas aí será opcional, se por acaso enxergarmos o túnel de luz e acharmos que pode ser mais divertido, seguiremos sem medo.
Não seremos de mais ninguém, e ninguém nos pertencerá mais, e assim seremos um por todos, todos por um, porém cada um no seu quadrado, lençóis cheirando a lavanda, duchas poderosas, tudo lindo.
Desde já precisamos pensar em patrocínios, produção, infraestrutura.
Agora, para entrar nesse asilo, aviso logo: os critérios de seleção serão extremamente rigorosos, sendo que algumas pessoas estão pré-aprovadas por méritos já conquistados, e elas sabem quem são.
Será obrigatório largar pra trás todas as chatices, todas as neuroses, todas as opiniões formadas sobre tudo, todas as cracas que foram se agarrando em você, e querer daí em diante, viver para criar o seu grand finale.
Não é pra qualquer um. Quem vai bancar? Sei lá...
Um crowdfunding talvez, e imagina o que seria ter a sua marca estampada nesse modelo inovador de envelhecimento, a reinvenção da vida após a vida vivida?
Rsrs...ando muito desocupada mesmo.
Ah!!! Muito Importante: Todos os créditos desse projeto são dedicados a minha querida Tia Gel, irmã do meu saudoso pai, que vive lá em Garopaba e sempre me falava dessa idéia, a qual chamava de “Motelho”, uma espécie assim de motel para os velhos que querem simplesmente aproveitar o que lhes resta da vida com alegria e prazer.
Suzana MullerLoivo Carlos MullerLuis Roberto Muller, queridos primos, digam a ela que o delírio que escrevo agora tem tudo a ver conosco, ela sendo a detentora principal de um espírito único com o qual sempre me identifiquei, e ela sabe disso.
Vai que dá certo...
Tia Gelcy e eu, tudo a ver. O resto é cópia.

Coisas de uma certa menina

Coisas que uma certa menina gostaria de fazer:
Escrever um livro, ler um livro;
Plantar uma hortinha de ervas, inventar e executar receitas;
Fazer aulas de pilates e dança todos os dias;
Viajar para uma cidade do Brasil uma vez por mês, viajar para uma cidade do mundo a cada três meses;
Dar um mergulho e rezar todos os dias para o resto da vida;
Ter a certeza de que todas as pessoas que amo estão bem e felizes para brindarmos (pode ser uma vez por semana mesmo);
Pensar em soluções, parar de botar a culpa em mim.
Coisas que uma certa menina precisa fazer:
Trabalhar muito, mas muito mesmo, arrancar o couro se preciso for;
Ganhar dinheiro, ou até merrecas, para pagar as contas e despesas cada vez mais escorchantes;
Parar de fumar, de sonhar e de reclamar;
Ficar muito, mas muito esperta, tomando mais cuidado com os desavisos, os bueiros sem tampa, as encruzilhadas, e as más intenções;
Tomar consciência do tempo que passou e não ficar subindo no banquinho pra fazer qualquer coisa e ferrar o joelho;
Lembrar há quanto tempo não falo com essas pessoas que amo e zerar esse tempo perdido, mesmo que seja por um segundo de um longo abraço;
Não pensar em problemas, parar de botar a culpa nos outros.
Então... o joguinho é esse: cruzar os pontinhos, num é que uma coisa depende da outra?

Todo dia é dia

Sobre o dia ontem, mulheres e tal, last, but not least:
A gente fala pelos cotovelos, chora muito, morre de rir, a gente se vangloria de tantas coisas, mulheres que somos, mas eles, os homens, também estão de parabéns, aliás quando é mesmo o dia deles?
Parabéns vai para todos os seres humanos que evoluem no amor e na paz, na busca por um mundo mais justo e uma vida mais plena, sejam de que sexo for, qual a sua opção sexual, ou cor ou raça ou religião ou faixa etária ou qualquer outro rótulo chinfrim que algum ignorante um dia nos enfiou goela abaixo, e que às vezes nos impossibilitam de compreender o que realmente está escrito nas entrelinhas de cada alma, essa baboseira toda que semeia preconceitos e nos torna incapazes de enxergar a diferença que cada um pode fazer.
Não existe um único motivo para homenagear todas as mulheres, nem todos os homens, nem todas as pessoas, não somos nada sem o outro.
E na verdade, o que acontece é que nem sempre todas nós, e nem todos eles, faz por merecer tantas deferências...alguns sim, outros não, tenho certeza que você sabe bem disso.
Fica então meus parabéns, a cada dia, somente para as criaturas do bem que não estão aqui a passeio.
O resto pode jogar no triturador, vai que vira um bom adubo.
‪#‎tododiaédia‬

Avesso

Não sou esquerda, nem direita, nem centro, nem em cima, nem embaixo, nem dentro nem fora, nem mais pra lá nem mais pra cá.
Muito pelo contrário.
Eu sou assim, que nem Sampa de Caetano, o avesso do avesso do avesso do avesso.

Bruschettas

Bruschettas proletárias, operárias, sem a mínima nobreza, bruschettas classe XYZ.
Bruschettas que planejei dias antes, comprando tomates, shitakes, manjericão, temperos, azeite e pimentas a postos, e que hoje, ao ouvir o grito da fome tardia na noite de sexta, apesar de ainda estar enrolada nas missões, finalmente sairia do mundo da imaginação para se tornar uma saborosa realidade.
Entrei em casa e quase já fui de novo, amiga chamando para o jazz, mas tem o cachorrinho pedindo cuidados ainda, só eu, mais ninguém, então fiquei.
O pão...o pão já estava aqui, um pão italiano, como deve ser.
Mesmo assim, o pãozinho francês (ele é francês mesmo??? quem disse?), estava simpático e douradinho, recém saído do que se poderia chamar de padaria na Barra.
(A gente sempre compra o pãozinho saído do forno, assim quentinho, mesmo que não vá comer naquele ou em qualquer outro momento, não existe nada mais sedutor nesse mundo, que seja só para passar uma manteiguinha)
Só??? Só isso já é tudo!
Mas então, as bruschettas...tudo devidamente cortadinho, temperado, doses exatas de pedacinhos suculentos prontos para derramar no pão italiano...
Quando abri o pacote, o pão, italiano e perfeito para as bruschettas, todo mofado.
Olhei para um lado, para o outro, quase atônita...e lá estava o prosaico pãozinho francês recém comprado na pseudo padaria da Barra, douradinho, cheiroso e crocante.
Não deu outra, fatiei em quartos, joguei o azeite, todas as apetitosas misturas por cima e voilà!
Bruschettas improvisadas e deliciosas, bruschettas sem culpa, sem nenhuma obrigação de merecerem um rótulo de legitimidade.
Bruschettas que não são, feitas com qualquer coisa para saciar uma fome sem vaidades.
Moral da história: Sempre existe uma saída.

Sudoeste

Sentindo o sudoeste ventando forte na diagonal da minha sala, provocando arrepios.
Acabou mesmo o verão.
Não posso dizer que gosto.
O calor me expande, mesmo com todo o desconforto, é chuva de prata no final da festa, é brilho e alegria.
O frio me encolhe, e me transforma numa tartaruga que esconde a cabeça dentro do casco.
É legal também, a introspecção traz conhecimentos, mas é que eu sou muito exibida.