sexta-feira, 26 de dezembro de 2014

Desassossegada

Eu não tenho essa saudade, esse desejo de voltar no tempo, o que passou, passou.
Essa nostalgia de décadas passadas, de vidas já vividas, de comportamentos em contextos tão diferentes dos estão aí hoje, isso eu não tenho.
Just walk and don´t look back.
O que eu tenho mesmo é uma dificuldade em entender onde foi que se perdeu a gentileza, que nós são esses que nos amarram, porque tantas encruzilhadas, não entendo de onde vem as muralhas que nos separam uns dos outros, os valores tão vazios que esse maravilhoso mundo novo criou, onde cada um só cuida de si, onde não há tempo pra refletir, onde não existem escolhas a fazer, onde seu destino já está traçado, onde você acorda de manhã e tudo já está programado.
E se você não se adapta a esse sistema míope de realidade é imediatamente excluído, passa a viver à margem dos acontecimentos, e longe das pessoas e de suas zonas de conforto.
As pessoas não querem se envolver com nada que não seja borbulhante como brindes de champagne já que qualquer coisa mais profunda do que isso se torna desconfortável, e é aí que a ignorância passa a ser quase uma dádiva, uma rota de fuga.
Então é assim, sempre mais fácil não dizer o que se pensa e o que se sente verdadeiramente, é sempre mais fácil aderir, se adaptar, calar e se submeter, e nesse momento é que tenho saudade, uma saudade de quebrar as regras, de não corresponder às expectativas, de mudar o rumo dessa prosa, de tomar um atalho, de dizer não, isso eu não quero, e dizer sim, isso me encanta, é pra lá que eu vou.
Não tenho saudade do que já fui, tenho só o desejo de continuar sendo livre para escolher a minha dose de emoção.
Sou assim, eternamente desassossegada.






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