sexta-feira, 26 de dezembro de 2014

Desassossegada

Eu não tenho essa saudade, esse desejo de voltar no tempo, o que passou, passou.
Essa nostalgia de décadas passadas, de vidas já vividas, de comportamentos em contextos tão diferentes dos estão aí hoje, isso eu não tenho.
Just walk and don´t look back.
O que eu tenho mesmo é uma dificuldade em entender onde foi que se perdeu a gentileza, que nós são esses que nos amarram, porque tantas encruzilhadas, não entendo de onde vem as muralhas que nos separam uns dos outros, os valores tão vazios que esse maravilhoso mundo novo criou, onde cada um só cuida de si, onde não há tempo pra refletir, onde não existem escolhas a fazer, onde seu destino já está traçado, onde você acorda de manhã e tudo já está programado.
E se você não se adapta a esse sistema míope de realidade é imediatamente excluído, passa a viver à margem dos acontecimentos, e longe das pessoas e de suas zonas de conforto.
As pessoas não querem se envolver com nada que não seja borbulhante como brindes de champagne já que qualquer coisa mais profunda do que isso se torna desconfortável, e é aí que a ignorância passa a ser quase uma dádiva, uma rota de fuga.
Então é assim, sempre mais fácil não dizer o que se pensa e o que se sente verdadeiramente, é sempre mais fácil aderir, se adaptar, calar e se submeter, e nesse momento é que tenho saudade, uma saudade de quebrar as regras, de não corresponder às expectativas, de mudar o rumo dessa prosa, de tomar um atalho, de dizer não, isso eu não quero, e dizer sim, isso me encanta, é pra lá que eu vou.
Não tenho saudade do que já fui, tenho só o desejo de continuar sendo livre para escolher a minha dose de emoção.
Sou assim, eternamente desassossegada.






quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

No es por ti - Grupo Corpo (Lecuona)

Sempre em setembro

Talvez por acaso, talvez não, eu nasci em setembro, e abaixo da linha do Equador, o que é ainda melhor.
Um tempo de esperar a primavera, com seus perfumes que chegam renovando verdes e cores.
Talvez também não por acaso, cheguei ao mundo fazendo parte dessa intrigante categoria denominada virginianos, seres estranhos do elemento Terra, perfeccionistas, críticos, generosos, frequentemente muito chatinhos, e de acordo com algumas vertentes, muito organizados, o que poderia ser facilmente desmentido por qualquer um que tenha acesso aos meus armários.
Deve ser culpa do tal do ascendente, esse que eu ainda não tive o prazer de conhecer, o responsável por essa predominante preguiça de arrumar as coisas por dentro, quem sabe como um mecanismo de preservação dos sonhos.
Talvez seja isso...a razão pela qual eu nem sempre consiga dizer a todos que guardo nas minhas gavetinhas o quanto eu os amo, e agradecer por fazerem parte da minha vida de uma maneira ou de outra, todos igualmente importantes, estejam lá no fundo há algum tempo ou recém guardados...
Então é agora, nesse exato momento que recebo tantas mensagens de carinho, que aproveito para desejar a cada um de vocês toda essa felicidade em dobro e uma primavera repleta de boas novidades.
Um beijo a todos! boa noite que amanhã já é hoje.

A condição

Diante dos fatos cotidianos da vida atual (a minha, é claro) tenho refletido bastante e cheguei a seguinte conclusão:
Sou rica, mas estou pobre.
Isso não é nada agradável, mas ainda me permite vislumbrar uma janela, um atalho, uma possibilidade de vôo, alguns acessos inesperados...
Então pensei que existe uma situação muito pior:
Ser pobre e estar rico.
Pois essa é realmente uma condição imutável, já que a verdadeira pobreza é acima de tudo a total incapacidade de enxergar além do horizonte e perceber as pessoas à sua volta, é não sair do lugar mesmo com todos os caminhos abertos, e isso é hermético, inoxidável e verdadeiramente insuportável.
Assim, deito a cabeça no travesseiro e vou dormir mais sossegada.
Boa noite.

Despertar

Me sinto como se estivesse em uma nave fora da órbita da Terra flutuando tranquilamente no espaço sideral, e que de repente é arremessada de volta, atravessando a atmosfera e se espatifando em solo árido.

Ida e volta

Não tenho medo de ir, só de não voltar.
Mas se não voltar é porque preciso ficar, e se não ficar é porque preciso voltar.
De uma maneira ou de outra, vou seguindo o fluxo e se tudo parecer parado no fogo cruzado, descubro um atalho.
A gente sempre passa por um, desapercebido.

quarta-feira, 3 de dezembro de 2014

Azamiga

São elas, as minhas amigas.
Aquelas que me fazem esquecer do que não vale a pena, ou que me lembram só das coisas mais relevantes, as que me fazem perceber quem eu sou, ou me fazem esquecer de quem não gosto de ser, as verdadeiras, as mais engraçadas, as que me situam, me divertem, aquelas capazes de alinhar os planetas.
Não são muitas, nem são poucas, as amigas que me fazem rir, ou chorar só se for o caso, pois lágrimas não foram feitas para desperdiçar, há que se ter uma bela justificativa.
Já os sorrisos de cumplicidade, e as gargalhadas sem disfarces, são sem limites.
Quando estou com elas, sou só eu, eu e elas, e aí então somos as melhores.
Sempre no tempo presente.
São tantas, e tantas outras, com menos tempo de estrada, mas tão importantes, cada uma capaz de identificar as afinidades, sem fazer uso dos parâmetros óbvios para o resto do mundo.
Para todas as grandes mulheres que cruzo no caminho aqui e ali, e que já marcaram seu território, I have to say: 
Tem amor pra todo mundo.
Mas as melhores...a essa altura, são imbatíveis.