Eu não tenho essa saudade,
esse desejo de voltar no tempo, o que passou, passou.
Essa nostalgia de
décadas passadas, de vidas já vividas, de comportamentos em contextos tão
diferentes dos estão aí hoje, isso eu não tenho.
Just walk and don´t look back.
O que eu tenho mesmo é
uma dificuldade em entender onde foi que se perdeu a gentileza, que nós são
esses que nos amarram, porque tantas encruzilhadas, não entendo de onde vem as
muralhas que nos separam uns dos outros, os valores tão vazios que esse maravilhoso
mundo novo criou, onde cada um só cuida de si, onde não há tempo pra refletir,
onde não existem escolhas a fazer, onde seu destino já está traçado, onde você
acorda de manhã e tudo já está programado.
E se você não se
adapta a esse sistema míope de realidade é imediatamente excluído, passa a viver
à margem dos acontecimentos, e longe das pessoas e de suas zonas de conforto.
As pessoas não querem
se envolver com nada que não seja borbulhante como brindes de champagne já que qualquer coisa mais profunda do que isso se torna desconfortável, e é aí que a ignorância passa a ser quase uma
dádiva, uma rota de fuga.
Então é assim, sempre
mais fácil não dizer o que se pensa e o que se sente verdadeiramente, é sempre
mais fácil aderir, se adaptar, calar e se submeter, e nesse momento é que tenho
saudade, uma saudade de quebrar as regras, de não corresponder às expectativas,
de mudar o rumo dessa prosa, de tomar um atalho, de dizer não, isso eu não quero,
e dizer sim, isso me encanta, é pra lá que eu vou.
Não tenho saudade do
que já fui, tenho só o desejo de continuar sendo livre para escolher a minha dose de emoção.
Sou assim, eternamente
desassossegada.